Pastel de Nata #1 – Ao fim-de-semana vale tudo!

A aposta das televisões portuguesas para o primetime de fim-de-semana tem sido caracterizada, nos últimos anos, por talent-shows ou reality-shows, maioritariamente importados, que procuram colocar cada canal na luta pelas audiências. Nos últimos meses, os fins-de-semana têm sido marcados pelo feito quase inédito da transmissão de três programas de entretenimento com a participação, como concorrentes, de personalidades conhecidas do grande público: Feitos ao Bife, na RTP1; Vale Tudo, na SIC; e A Tua Cara Não Me É Estranha, na TVI.

Não são programas directamente comparáveis, dado que nem sequer são emitidos nos mesmos dias ou às mesmas horas: Feitos ao Bife tem transmissão aos Sábados, pelas 21 horas, terminando pouco mais de uma hora depois, enquanto Vale Tudo e A Tua Cara Não Me É Estranha vão para o ar no Domingo, cerca das 21h30, habitualmente até à uma hora da manhã. Competem com outros programas, mas competem também uns com os outros no que diz respeito ao formato, à forma como procuram captar a atenção do público e aos convidados, jurados e, em último caso, apresentadores que dele fazem parte.

As “celebridades” são uma presença recorrente, mas em que medida serão elas, de facto, celebridades? A TVI parece ter ido à arrecadação de Queluz buscar as nomes que andavam perdidos na sua história. Isso ou “actores” da geração Morangos com Açúcar. Se inicialmente Luciana Abreu ou João Paulo Rodrigues eram personalidades que até ofereciam algum elemento de qualidade ao programa, a introdução de Wanda Stuart, Ruth Marlene ou Nicolau Breyner é só decadente.

No caso da RTP1, convidados como Pedro Alves ou Catarina Guerreiro não trazem qualquer interesse ao espectador. Vale Tudo escapa um pouco neste aspecto, como nos restantes, dado que consegue posicionar-se melhor perante um público-alvo mais específico, mais jovem, e ao mesmo tempo num entretenimento mais abrangente, através de um grupo de convidados rotativo – todas as semanas há novas caras, a juntar-se a personalidades divertidas como César Mourão ou Inês Castel-Branco.

Outros aspectos tornam A Tua Cara Não Me É Estranha um programa desgastado e desinteressante para o espectador que procura ser minimamente desafiado e entretido num domingo à noite pré-semana de trabalho. A começar, uma dupla de apresentadores que ou se gosta muito ou não se consegue minimamente ‘aturar’. A TVI abusa da dupla Manuel Luís Goucha–Cristina Ferreira – é de manhã, à noite, à tarde se for preciso também.

Bom, eles dão audiências. O programa tem audiências. E não é certamente por causa dos jurados, igualmente decadentes, de Alexandra Lencastre aos sempre presentes José Carlos Pereira e António Sala. Comentários inócuos e falsamente elogiosos. Mais: um suspense mal criado, actuações que procuram dissimular um playback quase certo. O formato não se gasta necessariamente em si mesmo, mas também não consegue ganhar muito a paciência do espectador.

Feitos ao Bife tem problemas semelhantes, que o tornam absolutamente insuportável de ver do início ao fim. A ideia não é má, as provas em que os concorrentes são colocados é que são aborrecidas, do improviso ao talento musical, passando pelos ridículos momentos armadilhados nos quais estes são surpreendidos. Torna-se repetitivo sem razão, demasiado simplista forçoso, em simultâneo, na forma como procura entreter. O facto de não ser transmitido em directo também não abona a seu favor, dada a especificidade do formato.

E se é assim com personalidades ditas ‘famosas’, imagino o formato internacional Don’t Stop Me Now, com pessoas ditas ‘comuns’, ainda menos interessante. Catarina Furtado tenta salvar a honra, em conjunto com um painel de jurados que tinha tudo para dar certo – o irreverente Vasco Palmeirim e a bem disposta Rita Blanco, pelo menos, teriam esse potencial. Mas o resultado é francamente fraco: uma hora de serviço público desperdiçado, infelizmente, numa das traduções mais absurdas dos últimos tempos.

Não é pelos concorrentes/convidados nem pelo directo, mas a verdade é que Vale Tudo salva este primetime de programas falhados. Se ao Sábado não temos uma alternativa semelhante, ao Domingo podemos escolher a SIC para passar a noite em frente à televisão. João Manzarra é consideravelmente mais jovem, dinâmico, entertainer e humorísta do que os restantes comparados. Parece um programa entre amigos que partilham uma noite divertida com todos os que estão em casa.

Podia ser repetitivo, contudo as mudanças que os jogos sofrem de semana para semana conferem-lhe um carácter flexível e diferenciado. Promove o divertimento de forma simples e directa. Nome mau, demasiado longo e apenas mais um programa de entretenimento; mas, ainda assim, aquele com o qual podemos passar melhores momentos e dar umas gargalhadas ocasionalmente, espontaneamente.

A Tua Cara Não Me É Estranha já fechou a sua terceira temporada para dar lugar a uma nova fase Big Brother – também ele VIP – que passará a ocupar as noites de Domingo. As audiências devem voltar a dar razão à TVI e se, de facto, o programa da RTP1 tiver alguma audiência ao Sábado, é certamente pela ausência de concorrência similar. Vale Tudo continua a ser a melhor aposta para o primetime – um programa pelo qual não dava nada inicialmente, mas cujos cenário inclinado, serenata e tantos outros jogos divertidos o tornam relativamente mais cativante. Nice shot, SIC.

A Tua Cara Não Me É Estranha

Feitos ao Bife

Vale Tudo